sábado, 12 de março de 2011

Quaresma: o caminho da Páscoa


   A
 Quaresma inicia-se na Quarta-Feira de Cinzas e se estende até a manhã da Quinta-Feira Santa. São 40 dias em preparação para a Páscoa. Os primeiros registros de que os cristãos faziam um preparação pré-pascal remontam ao inicio do século 4º no Oriente, e ao fim do mesmo século, no Ocidente. No entanto, desde o século 2º os cristãos jejuavam para esperar a Páscoa. A opção pelos 40 dias tem estreita ligação com o simbolismo bíblico.

            Quarenta dias – Biblicamente o 40 é o número da espera, da preparação, de penitencia, do jejum e até do castigo. Recorda-se os 40 dias que choveu durante o dilúvio (cf. Gn 7,4). Moisés esperou 40 dias para receber as tábuas da lei no monte Sinai. Os israelitas peregrinaram 40 anos no deserto em preparação á entrada da Terra prometida (cf. Ex 16,35). A cidade de Nínive fez penitência durante 40 dias para escapar do castigo divino. Elias viajou durante 40 dias até chegar ao monte Horeb, onde Deus se manifestou na brisa (cf. 1Rs 19,8). Jesus jejuou 40 dias no deserto, preparando-se para a sua missão (cf. MT 4,3; Mc 1,13; Lc 4,2). Após sua ressurreição, Ele apareceu durante 40 dias aos discípulos (cf. At 1,3). Quaresma é, portanto, um número redondo e provisório, que indica um tempo de preparação para algo que virá.

            O sentido pascal da Quaresma – A Quaresma não pode ser vivida como um tempo de sacrifícios e sofrimentos desconexos da vitória de Cristo na Páscoa. Na verdade, participamos dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória. Preparados e purificados pelo tempo penitencial, renovamos nossa consciência de batizados: banhados e iluminados em Cristo.

          Tempo batismal e penitencial - O Concílio Vaticano II insistiu na dupla índole  da Quaresma: batismo e penitência. Fala-se da dupla conversão. A primeira, quando somos batizados; e a segunda, na reconciliação penitencial. A Quaresma é a época privilegiada para a preparação ao batismo de adultos.

            Renovar o batismo – Trata-se de se tornar mais discípulo, seguidor de Jesus. Através do batismo, Cristo nos converteu e nos reconciliou com o Pai. Pela sua morte na cruz e por sua ressurreição, somos uma nova criatura, banhados e iluminados pela ação de Deus.

            Fazer penitência -  A penitência cristã está fundada no batismo, pois, quem cai no pecado renova a aliança com Deus através do sacramento da reconciliação. O pecado, o egoísmo e o fechamento de cada dia rompem nossa relação com Deus. Ele sempre é fiel ao seu plano e por isso dá novas oportunidades para nos voltarmos a Ele. A conversão, entretanto, supõe arrependimento, mudança de atitude e reparo do mal causado. Faz-se necessário abandonar velhos vícios, condutas e posturas que nos impedem de ver Deus e amar os irmãos. È tempo de encher-se de um vento novo. è o sopro de Deus que faz novas todas as coisas.

Práticas quaresmais: oração, jejum e esmola

            A Quaresma propõe exercícios que evidenciam o caráter da conversão. Na Quarta-Feira de Cinzas, escuta-se o Evangelho de Mateus (cf. Mt 6,1-8.16-18), no qual Jesus faz referência à esmola, à oração e aos jejum. São posturas que visam novas relações do ser humano consigo mesmo, com os outros, com as coisas criadas e com Deus.
            A oração – Não é uma tentativa de pedir que Deus cumpra a nossa vontade, mas é um entrega total e generosa nas mãos do Pai. Intensificando a oração, o cristão tem maior abertura para Deus, não apenas para pedir ou agradecer, mas para escutá-lo. Através da oração, o Espírito Santo nos conduz para rezar ao Pai, como o Filho nos ensinou. Quem reza percebe que nenhuma tribulação ou euforia deste mundo dura para sempre. “Tudo passa, só Deus basta” – como disse Santa Tereza de Jesus. Em tempos de tanta agitação e ativismo, muitos se esquecem de cultivar essa comunicação amorosa com a Trindade. Na oração quaresmal, recordamos o Cristo que rezava nos desertos, nas montanhas, nos jardins. A oração é um diálogo com Deus. Falamos e escutamos. Sem a oração não nos convertemos.
           
            O jejum – A prática do jejum quaresmal está limitada à Quarta-Feira de Cinzas e à Sexta-Feira Santa. A abstinência de carne é prevista para as sextas-feiras da Quaresma. São gestos externos que revelaram a conversão interior. Não pode ser um formalismo. è inútil abster-se de alimentos sem mudar a mentalidade e rejeitar o que nos afasta de Deus. Não é um desprezo do corpo, nem das realidades do mundo. O que é visível e material é necessário para o equilíbrio da vida. O principio fundamental do jejum não é o sofrimento da vida. O principio fundamental do jejum não é o sofrimento em si mesmo, mas a dor transformada em amor. è o grão de trigo que morre para produzir mito fruto (cf. Jô 12,24). Esta prática permite unificar o nosso ser e a nossa relação com as coisas criadas. A comida e a bebida simbolizam tudo o que envolve o se humano. Abster-se um pouco delas revela que não nos deixamos escravizar pelas coisas deste mundo. Jejuar é controlar-se, é esvaziar-se de si para dar espaço para Deus e para valores que estão além do mundo visível.

            A esmola – Não há conversão a Deus sem atenção ao amor fraterno. A esmola é traduzida em gestos de caridade. Ela visa melhorar o nosso relacionamento com o próximo. Dar esmola é dar de graça, sem pensar na recompensa. È uma atitude de compaixão. Através deste ato, rompe-se as barreiras do individualismo egoísta, do narcisismo e do fechamento. Celebra-se o compromisso comum de viver a partilha e a comunhão. O amor gratuito não doa apenas coisas, mas também tempo e acolhida ao outro. A esmola pode não superar todos os problemas sociais, mas é um exercício contínuo de promoção humana. Nada mais estranho ao Evangelho do que o cinismo e a apatia em relação ao outro.

            Como celebrar a Quaresma – Por ser um tempo penitencial, de volta ao Pai, de refazer o caminho da vida, é preciso valorizar os sinais comunitários que indicam essa condição. Destaca-se o ato penitencial nas celebrações para cantar misericórdia de Deus que acolhe quem se afastou e deseja voltar para a Casa do Pai. O madeiro da cruz ganha destaque como caminho necessário para a Páscoa. Dentre os gestos, o estar de joelhos revela a condição humana que se prostra e adora o mistério do amor misericordioso de Deus. È uma época especial para o sacramento da reconciliação e para as celebrações comunitárias. A piedade popular nos convida à via-sacra para trilharmos, com Jesus, o caminho que passa pela cruz, mas que conduz à ressurreição. O espaço litúrgico é ornado da cor roxa, sinal de penitência. Não se utilizam flores. Não se canta o “Glória” nem o “Aleluia”. Para acentuar o caráter batismal, é importante usar o rito de aspersão com água nas celebrações.

Tempo da Campanha da Fraternidade

            No Brasil, vive-se o período da Campanha da Fraternidade. È um esforço de toda a nossa Igreja para viver a Quaresma em sua dimensão comunitária e social. “A penitência quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social” (Sacrossanctum Concilium). Sem se esquecer das mudanças pessoais, a Igreja nos faz abrir os olhos para situações que precisam de cuidado e atenção. Busca-se assim, assumir a missão do Mestre Jesus: “Para que todos tenha, vida em abundância” (Jô 10,10).

            Tempo da compaixão – A Quaresma nos ensina o caminho da purificação e da iluminação. Nela acolhemos as palavras de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Não é uma simples mudança de vida, mas é a acolhida do amor de Deus, que reconcilia o mundo consigo. È tempo de reconhecer a infidelidade, a falta de conversão, de arrependimento, de acolhida e do perdão que sai do coração do Pai. O período quaremal leva-nos a uma atitude de acolhida do amor misericordioso que vem de Deus e nos interpela para amar os irmãos com solidariedade e compaixão. È tempo de viver a compaixão com Cristo e com os irmão.


Padre Leomar Antônio Brustolin
Pertence ao clero da Diocese de Caxias do Sul (RS)
e é doutor em Teologia Sistemática. Professor de Filosofia e Sociologia
 e coordenador dos cursos de pós-graduação (lato-sensu) em Teologia Pastoral
 e Ensino Religioso, na Universidade de Caxias do Sul.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Campanha da Fraternidade 2011

           Neste ano, a CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos Brasileiros), propõe para 2011, a Campanha da Fraternidade, com o tema: “Fraternidade e vida no planeta”, e como lema: “A criação geme em dores de parto (Rm 8,22)”. Nesse intuito, a CNBB, propõe a todas as pessoas, a terem um novo olhar para a natureza, e que percebam, como que aos poucos, o Homem, vem acabando com o nosso Planeta Terra.
            Essa campanha aborda principalmente o tema do aquecimento global, e das mudanças climáticas, que a cada ano, é mais intensa e crescente. Esse desequilíbrio ambiental, já vem sendo discutido a um bom tempo, e á pesquisadores, que afirmam que o aquecimento global, é devido aos próprios processos naturais, e á os que afirmam que o planeta está apresentando aquecimento, devido ás grandes quantidades de emissões de gases de efeito estufa, que se intensificam com a industrialização acelerada.
            Nos últimos anos, estamos sentindo de perto os gemidos de nosso planeta, sejam elas em terremotos ou inundações. E essa campanha, vem nos alertar, que ainda a tempo de reverter essa situação, que poderemos então, transformar esses gemidos de dor em gemidos de amor e esperança.
Essa campanha vem nos alerta que não é só a maioria das pessoas, que devem se preocupar com o nosso planeta, (planeta este que é a nossa casa), e sim, para que todas as pessoas possam ser fraternas, e juntas gerar novas ações que nos levam a um bem comum.
            Os objetivos gerais dessa campanha, é contribuir para a conscientização das comunidades cristãs e pessoas de boa vontade, sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a participar dos debates e ações que visam enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta (cf. texto base – CF 2011).
            Para que nesse período quaresmal, possamos refletir sobre o nosso Planeta, e que possamos vivenciar o nosso próprio batismo, e juntos, como povo unido em Cristo, possamos propor novos caminhos para a superação dos problemas ambientais, relacionados ao aquecimento global. Que o Senhor da Vida nos abençoe em nossa caminhada quaresmal.