sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sobre a Igreja


“O vinho velho é melhor”. (Lc 5,39)

            A Igreja é a presença do Reino de Deus? Jesus falou do Reino de Deus como uma semente na terra: “Dorme, levanta-se de noite e dia, e a semente brota e cresce... a terra por si mesma produz primeiro a planta, e depois a espiga e, por último, o grão abundante na espiga”. (Mc 4,36-29)

            A Igreja é a presença do Reino de Deus? Ele é a terra disforme e deserta; as trevas e a luz; o firmamento e as águas; a árvore e o fruto; as estações, os anos, a noite e o dia; os seres viventes, pássaros, monstros marinhos e peixes; as feras, os répteis,  homem e a mulher. (Gn 1)
            O Reino de Deus é aquilo que nós conhecemos do universo e que para nós é mistério. Aquilo que cala e vive o silêncio.           
            È êxtase do místico e a contemplação solitária da montanha. È o bem consciente e responsável e o instinto materno dos animais.
            È a viagem de um Papa e a estabilidade monótona de um camponês.
            È a ânsia de paz no coração do homem e a violência magnífica do mar agitado.
            È a caridade das bem-aventuranças e a mansidão daqueles que não têm voz, não podem gritar e dos entristecidos. Não podemos reduzir o sacrifício da cruz e a alegria da ressurreição de Cristo somente homem, ao batizado e à Igreja. Isso, o sabemos, mas quando se trata de aceitar e ajudar a caminhar, a apoiar e a defender o Reino de Deus, corre-se a tentação de ficar do lado dos mais poderosos.
            A Igreja no Reino de Deus é a esposa, a via mestre... È o olhar terno de Cristo, não a plenitude do Cristo... Porque Nele está o presente: o batizado e o ateu; o desesperado e o enforcado; aquele que freqüenta a Eucaristia e o ausente... Desde quando Ele se encarnou e nos redimiu, nada lhe é estranho.
            È a garoa e o sangue do mártir. È o Chico Mendes como Francisco de Assis. È a paixão de Romeu e Julieta como aquela de Catarina de Sena que admoestou até o Papa em sua época.
            Cristo está na Igreja... como a força vital, a pedra angular e o fundamento estável. A sua estatura vive na comunidade dos batizados; mas ultrapassa a estrutura sacramental, ou seja, tudo é sacramento eficaz do seu amor.
            Cristo é livre, mesmo se a sua voz se escuta às vezes com autoridade por parte daqueles que não têm poder sobre Ele. Mesmo se pequeno, humilde, obediente e sacramento institucionalizado... Ele caminha glorioso e despojado para o homem e os cosmos.
            Vai mais além dos conventos e mosteiros, igrejas e catedrais. Encontra-se nas estradas, nos buracos, nas flores e no homem discriminado. No crente e naquela que espera ansioso a sua manifestação gloriosa... Não é panteísmo. È a glória de Deus que tudo preenche.
            A Igreja é a esposa eleita, a via mestra, o doce olhar do Senhor, a sua voz... Mas o Reino de Deus cresce também com aqueles que não estão na Igreja: no ignorante e no sábio famoso. Naquele que tem fome e não sabe como acreditar em quem tem sede e não sabe como rezar.
            O Reino de Deus é mais ‘indefeso’ do que a Igreja. Não possui homens formados, cultos, diplomáticos e consagrados. È a crus nua, obediente como o amor e alegre como a ressurreição.
            È o ritmo da semente sobre o qual ninguém tem poder, ninguém sabe como cresce... è presente, vivo e atual.
            A Igreja é a fortaleza onde o depósito da Palavra de Deus é guardado e bem interpretado. Mas quem planta, semeia, irriga e faz crescer... é o semeador desconhecido (Mc 4) que arando a terra do Reino de Deus, se faz semente, chuva, consolação e dom.


Ver. Arquimandrita Theodoro de Oliveira
Fundador F.M.C. / www.splaghynia.com

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